Dizem por aqui que, se uma mulher menstruar sozinha no mangal, ele aparece.
Ninguém sabe seu nome. Ninguém viu seu rosto. Só se sabe que veste um capuz preto… e nunca vem por acaso.
Era um domingo, por volta das 9 da manhã, quando minha vizinha Rosária me chamou. Queria que eu conhecesse sua sobrinha, Fátima — uma jovem que, segundo ela, estava passando por um momento estranho. Rosária sabia que eu frequentava a igreja, então perguntou se poderia orar com ela.Aceitei. Mas quando entrei e fui me apresentar, Fátima me olhou com os olhos arregalados, como se estivesse vendo algo atrás de mim. Disse, em voz baixa e trêmula:
— Ele não deixa.
E correu para dentro do quarto. Rosária foi atrás, preocupada. Fiquei parado, sem entender. Aquilo me incomodou… mas não tanto quanto o que viria depois.
À noite, fui chamado novamente. Gritos cortavam o ar como navalhas vindos da casa da vizinha. Quando entrei, o cenário parecia de outro mundo: Fátima se contorcia no chão, os olhos vidrados, a boca aberta em sorrisos quebrados. Irmãos da igreja oravam alto, mas o ambiente era denso, como se o ar tivesse peso.
Com o tempo, ela se acalmou. E só então Rosária me contou tudo.
Dias antes, Fátima havia ido ao mangal com amigos, em busca de caranguejos para o aniversário de um deles. Em certo momento, acabou se afastando demais. Foi ali, sozinha, cercada de lama, raízes e silêncio, que sentiu o sangue escorrer por entre as pernas.Se apoiou numa árvore para descansar... E viu.
Um homem com capuz preto, parado à sua frente. Sem rosto. Sem som. Só presença.
Ela gritou. Quando os amigos a encontraram, estava desacordada. Levaram-na pra casa. Quando acordou, contou o que tinha visto. E depois… foi ao banheiro. Mas ao olhar no espelho, gritou novamente.— Ele está aqui. — chorou. — Ele está dentro de mim.
Rosária dizia isso com os olhos marejados. Me arrepiei. E aí, como se algo estivesse esperando o momento certo, um grito profundo ecoou do quarto.
Fui correndo com Rosária. E o que vimos…Fátima estava de costas para a parede. De pé. Subindo.
Ela ria de forma aguda, estranha. Os olhos estavam negros, como pozos fundos. Não pensei duas vezes: puxei Rosária pra fora e bati a porta. Os irmãos voltaram. Oraram por horas. E, de repente, tudo cessou.Na manhã seguinte, Fátima foi levada para a casa de outros parentes. Rosária, abalada, acabou se mudando para Santa Catarina. Desde então, ninguém mais falou sobre aquilo.
Mas eu falo. Porque existem lendas que nascem de séculos, e outras que nascem da dor de quem viu.
E, se você alguma vez escutar passos no mangal… ou vir um vulto escuro no espelho… Reze. Porque pode ser ele.