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14 Jun
14Jun

Dizem por aqui que, se uma mulher menstruar sozinha no mangal, ele aparece.
Ninguém sabe seu nome. Ninguém viu seu rosto. Só se sabe que veste um capuz preto… e nunca vem por acaso.
Era um domingo, por volta das 9 da manhã, quando minha vizinha Rosária me chamou. Queria que eu conhecesse sua sobrinha, Fátima — uma jovem que, segundo ela, estava passando por um momento estranho. Rosária sabia que eu frequentava a igreja, então perguntou se poderia orar com ela.Aceitei. Mas quando entrei e fui me apresentar, Fátima me olhou com os olhos arregalados, como se estivesse vendo algo atrás de mim. Disse, em voz baixa e trêmula:
Ele não deixa.
E correu para dentro do quarto. Rosária foi atrás, preocupada. Fiquei parado, sem entender. Aquilo me incomodou… mas não tanto quanto o que viria depois.
À noite, fui chamado novamente. Gritos cortavam o ar como navalhas vindos da casa da vizinha. Quando entrei, o cenário parecia de outro mundo: Fátima se contorcia no chão, os olhos vidrados, a boca aberta em sorrisos quebrados. Irmãos da igreja oravam alto, mas o ambiente era denso, como se o ar tivesse peso.
Com o tempo, ela se acalmou. E só então Rosária me contou tudo.
Dias antes, Fátima havia ido ao mangal com amigos, em busca de caranguejos para o aniversário de um deles. Em certo momento, acabou se afastando demais. Foi ali, sozinha, cercada de lama, raízes e silêncio, que sentiu o sangue escorrer por entre as pernas.Se apoiou numa árvore para descansar...  E viu.
Um homem com capuz preto, parado à sua frente.  Sem rosto. Sem som. Só presença.
Ela gritou. Quando os amigos a encontraram, estava desacordada. Levaram-na pra casa. Quando acordou, contou o que tinha visto. E depois… foi ao banheiro. Mas ao olhar no espelho, gritou novamente.— Ele está aqui. — chorou. — Ele está dentro de mim.
Rosária dizia isso com os olhos marejados. Me arrepiei. E aí, como se algo estivesse esperando o momento certo, um grito profundo ecoou do quarto.
Fui correndo com Rosária. E o que vimos…Fátima estava de costas para a parede. De pé. Subindo.
Ela ria de forma aguda, estranha. Os olhos estavam negros, como pozos fundos. Não pensei duas vezes: puxei Rosária pra fora e bati a porta. Os irmãos voltaram. Oraram por horas. E, de repente, tudo cessou.Na manhã seguinte, Fátima foi levada para a casa de outros parentes. Rosária, abalada, acabou se mudando para Santa Catarina. Desde então, ninguém mais falou sobre aquilo.
Mas eu falo. Porque existem lendas que nascem de séculos, e outras que nascem da dor de quem viu.
E, se você alguma vez escutar passos no mangal… ou vir um vulto escuro no espelho…  Reze.  Porque pode ser ele.

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