Derik
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14 Jun
14Jun
Nas festas juninas do vilarejo de São Lázaro, entre bandeirolas suadas e cheiro de pamonha no ar, todos sabem: não é só o fogo da fogueira que pode queimar... é o brilho nos olhos de quem dança com o desconhecido.

🎭 A Jovem e o Encanto

Era uma moça linda, gentil, daquelas que pareciam carregar luz própria. Cuidava das flores de papel que decoravam o arraial e fazia questão de servir todos com um sorriso largo. Desde pequena, amava os festejos juninos — aquele momento mágico em que a vila ganhava vida entre balões, músicas e promessas.Na véspera da festa de Santo Antônio, enquanto colava bandeirinhas numa árvore, uma senhora idosa com olhos fundos se aproximou. Sem aviso, sem gentileza:

— Se estiver sozinha amanhã à noite... o Homem de Branco te acha.

A jovem riu nervosa, achando que era apenas uma superstição local. Mas a mulher insistiu, segurando seu pulso com força surpreendente.

— Ele parece lindo, parece limpo... mas não é. Ele é do rio. E no fim da dança, não sobra música — só silêncio.

🕯️ A Festa

Na noite seguinte, a vila brilhou. Havia balões subindo como desejos ao céu, sanfonas ecoando entre as barracas e garrafas de gengibirra passando de mão em mão.A jovem dançou, riu e comeu como nunca. Até que, ao se afastar para respirar próximo ao cais, viu um homem alto, impecável, vestido com um terno branco que não combinava com a poeira do vilarejo.Ele se aproximou lentamente, sorrindo. Seu olhar parecia prender o tempo. Ela achou aquilo curioso — estava leve, como se flutuasse. Quando ele pediu a dança, ela não hesitou.

🌊 O Porto

Eles dançaram ao som distante da quadrilha. Cada passo os levava mais perto do cais.

— Você é diferente, disse ele, como quem recita um segredo.  — O senhor não parece daqui, respondeu ela, sorrindo.

Ele tocou seu rosto. Ela sentiu como se as memórias da infância sumissem. Sentia calor, mas também frio. Confusão. Paixão. Medo.No último giro, ele a puxou em direção à beira d’água. Mas um grito rompeu o feitiço.A senhora. Ela estava lá, rezando em voz alta, com os braços erguidos. A jovem cambaleou, os olhos cheios de lágrimas, e então viu… ele não era mais humano.A pele brilhou num tom rosado. O rosto mudou de forma. O sorriso virou um traço fino como corte de faca. A criatura mergulhou no rio com um salto mudo, sem respingo.

❗ O Aviso

A jovem foi socorrida. Disseram que estava como quem desperta de um coma. E desde então, em cada festa junina, a senhora senta com suas rezas ao lado da fogueira.E o povo diz:

Não confie em rostos belos quando o mês é junho.  Nem toda dança termina com aplausos.  Às vezes, o bailarino está te levando para o fundo.




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